Estação Comandante Ferraz vai ter 19 laboratórios e deve começar a ser construída até o fim deste ano. Obra está orçada em R$ 2 milhões.
Foi escolhido na noite desta segunda-feira (15) o projeto para a reconstrução da base brasileira Comandante Ferraz, na Antártica. Ela foi destruída por um incêndio há mais de um ano. O anúncio do vencedor do concurso foi feito pela Marinha e pelo Instituto de Arquitetos do Brasil. O projeto do arquiteto Fábio Henrique Faria, de Curitiba (PR), foi o escolhido entre mais de 70 concorrentes. A nova base, orçada em R$ 2 milhões, vai ter 19 laboratórios e deve começar a ser construída até o fim deste ano.
A viagem à Antártica requer um preparo especial. O avião Hércules da Força Aérea Brasileira sai do Rio levando toda a equipe. Segue para Pelotas, no Rio Grande do Sul, e de lá para Punta Arenas, na Patagônia chilena. É ali que começa a aventura.
No dia seguinte, a previsão do tempo ajudou e partimos bem cedo para a base de Frey, a única que tem campo de pouso na Antártica. Pousamos na base chilena de Frei depois de dois dias de espera. A gente aprende que a paciência também faz parte desta viagem à Antártica. Mas esta é só a primeira etapa. Daqui a gente segue para a estação brasileira Comandante Ferraz.
A gente vai de helicóptero, em um voo de mais ou menos 20 minutos. A temperatura é considerada amena neste fim de verão, 0ºC, mas a sensação térmica, por causa do vento, é de menos -10ºC. Sobrevoamos algumas das 40 estações existentes na Antártica e logo avistamos a Comandante Ferraz, um pedacinho do Brasil na terra do gelo.
Desembarcamos no fim da manhã. A primeira coisa que nos chama a atenção são as cruzes em homenagem aos dois brasileiros mortos fincadas no alto do morro. A estação foi totalmente destruída por um incêndio há pouco mais de um ano. Os tenentes Roberto Lopes dos Santos e Carlos Alberto Vieira Figueiredo morreram tentando combater as chamas.
O subtenente Maurício Herculano foi um dos que ajudaram a remover os pedaços da antiga estação. Ele era companheiro de quarto do tenente Santos, um dos mortos. "Eu tinha como obrigação, até mesmo por tê-lo como amigo, de ajudar nesta reconstrução da Estação Antártica Comandante Ferraz”, diz Herculano.
Era exatamente em uma área já toda limpa e aterrada que ficava a estação que pegou fogo em fevereiro de 2012. O grande desafio da Marinha era retirar os escombros antes do começo do inverno antártico, marcado para o início de abril. Mais de 800 toneladas de aço retorcido e concreto foram levadas de navio do local. A nova sede começa a ser construída já no fim do ano. Ela vai ser erguida no mesmo lugar.
Uma base provisória abriga os militares. Toda a infraestrutura, com os lagos de captação de água de degelo e estação de esgoto, foi mantida. Mas os laboratórios tiveram que ser transferidos para os navios de apoio. As 19 pesquisas, interrompidas logo depois do incêndio, já foram retomadas, mas ficarão suspensas durante o inverno. Os estudos na Antártica acompanham as mudanças no clima, a vida de animais e a vegetação que brota na terra em temperaturas tão baixas. A nova estação vai ter 19 laboratórios. A antiga tinha apenas cinco.
“Nós incorporamos conceitos importantes de inovação tecnológica. Tudo para atender os nossos pesquisadores, para atender às nossas pesquisas científicas na Antártica do Brasil”, explica o Coordenador do Programa Antártica, almirante Silva Rodrigues.
A partir de agora, os dias ficam mais curtos e as noites mais longas. O inverno antártico vai até o fim de novembro. Em poucos dias, tudo vai estar coberto de neve, com camadas de até três metros de altura e o mar também vai sendo congelado aos poucos. Já começaram a chegar blocos de gelo. Muitos deles são azulados porque refletem o azul do céu.
Durante os oito meses gelados, apenas uma equipe de manutenção, com 15 militares, vai ficar na estação. Até novembro eles não terão visitas.
A médica, a capitã Solange Murta Barros, é a única mulher. “Se Deus quiser, vai ser tudo tranquilo. Eu só quero entregar todos os meninos inteiros, cada um para sua família no final e ter aquela sensação de missão cumprida. Eu vou ser tratada como uma princesa. Eu já sou”, brinca.
Uma benção aos que ficam e também aos que partem. Voamos contra o tempo, encantados pela beleza do fim de tarde na Antártica, mas somos surpreendidos, mais uma vez, pela instabilidade do clima. As nuvens encobrem o aeroporto da base chilena e a alternativa do piloto é pousar em um navio brasileiro. E a viagem continua, no mar, para chegar a Frey.
O vento deixa a temperatura beirando – 25 ºC. Um sofrimento que parece não ter fim. Uma queda na água pode significar a morte em poucos minutos.
Isso é a Antártica: saímos de helicóptero, tivemos que pousar no navio e depois fomos de bote, porque o tempo mudou. O Hércules, quase encoberto pelas nuvens, nos aguarda. Deixamos para trás um cenário lindo, onde o homem conseguiu chegar. Mas onde ele só entra e sai quando a natureza deixa.
ABR